1. |
Tanto Faz o Apocalipse
02:44
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Massacre a mais
Massacre a menos
Tanto faz
Quem morre na vala
De fome ou de bala
É enxerto ou estorvo
Cubro o olho
Escondo o rosto
Na grade da janela
Entre as barras
O mar de corpos pardos
Na estrada de quem vai
De quem ia
Há poças no asfalto
Rubro sob o sol do meio-dia
Cozinha o fôlego num poço
O enxofre lava a mesquinharia
A ferro e fogo e estrondo
O casco de Marx
O deus da guerrilha
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2. |
Batismo a Gasolina
01:27
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Na outra face do Cristo
Há um buraco de bala e
Sete de faca e
Um trapo pingando agonia
Na carne, o fogo
Do inferno na terra
Arde e arde
Há chagas nas mãos
Atadas às costas
Com nylon e arame
E a corda
Um nó na garganta
E a língua cortada
Na outra face do Cristo
Os ossos sem pele
E a boca sem dentes
E o cheiro e o cheiro
Queima as narinas
Marca a memória
A outra face do Cristo
Ou o que resta
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3. |
Faca e Faca
01:58
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Um trago
E eu trago
A morte no hálito
O aço e o risco no espaço
Entre o sopro e o grito
Faca e faca
Na ponta do ódio
Na fúria que rasga
No calor da raiva
É só o tempo
De beijar
A sua carne
Entre um gole e mais um gole
Veneno e sangue
Cruza o ar
Face a face
Jugular
Em seus olhos
Não há
É nascer ao inverso
De novo e de novo
Em seu ventre exposto
Há um corpo morto
E vejo meu rosto
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4. |
Foice
01:41
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Foi-se
De vez
Promessa e palavra
Fica
Sempre
A cerca e a farpa
Preso do lado de fora
A paisagem implora
Suor, semente, enxada
Toda a vida de volta
Foice, sangue
Saque, fúria
Fome, muro
Guerra, bala
Foi-se
De vez
De novo
História
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5. |
Beco
02:01
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Os cacos de vidro e
A ferrugem dos pregos
Sobre a cama de lixo
No sala de estar
Incomodam
Tanto quanto o vizinho
Que enche a cara de
Dúvida e medo
Da noite e
Sempre que passa
Na porta e
Funga com nojo do
Cheiro de álcool
E urina
O cheiro do beco
É o cheiro da vida
Na margem do abismo
Entra a vala e a via
Onde as cores são vivas
E os passos têm
Pressa demais
A metrópole é
A sombra, rapaz
É tudo mentira
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6. |
Cadáver
01:47
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Berço entre o asfalto
E a passagem dos fidalgos
Beijo entre um resto
E um rosto deformado pelo pouco
Migalhas desse ouro
A usura perdida
Entre tempo e olho
Invisível, enforcado,
Mal nascido por destino
Condenado ao ostracismo
Meu carinho sente nojo
E o repúdio vira medo
Cadáver ou natimorto
O aborto tem pulso
E talvez o seu nome
Seja Fome ou Esgoto
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7. |
Motivo Fútil
02:04
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Morreu por nada
Por motivo fútil
Uns cigarros falsos
Vinho vagabundo
Dez contos que seja
Ou uma pedra
Ou um furto
Devendo a quem não deve dever
Uma raiva, se muito
Morreu por sexo
De briga, por falta de sorte
Ou de posse de três balas
Não deflagradas
Nasceu morto, um aborto
Da história, do ventre à cova
Aberta na veia cava
Morreu num sopro
De vento no pó ao pó
Cercado de amigos e só
De fila, de susto
Morreu como veio ao mundo
Sem dentes, sem nomes
Sem flores e nu
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8. |
Quatro Mil Corpos
01:41
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Quatro mil corpos
Na cota de seu genocídio
É motivo de orgulho e
Medalhas e cargos e os
Mais altos salários
E sorrisos
Dos magistrados e
Suas penas de morte e
Com sorte há silêncio
No condomínio fechado
Para o mundo lá fora
Para os de pele escura
Com menos de vinte
E bem menos prata
O destino é um estampido
Que ninguém nota
Só anota na folha amarrotada
O número, a hora e a data
O vulgo, a idade e a
Provável causa
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9. |
Nada Importa
01:10
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A dor de um nervo exposto
O temor da manhã
O tumor de viver na rua
Se for o seu destino
Nada importa
Morrer na praça, suicida
Trocar tiros ou filhos por comida
Só fumaça por companhia
À noite antes de dormir
Nada importa
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10. |
Sem Finais Felizes
01:36
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Rosto queimado por ofensas e
Pontas de cigarros
Se o beijo é a véspera do escarro
Para ela foi medo, surra e
Três fetos mal formados
Desde o início teve
Gosto de álcool
Com sangue na seda
E gritos na alcova
Seu amor era seco
E sem finais felizes
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11. |
Pouco Antes do Fim
02:03
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Antes de medo
Morreu de bala
Antes de fome
De tédio
Antes do tempo
Soubesse do fogo
Antes da morte
Antes do fim
Dezoito
Tinha bem menos
Pecados
Tinha fugido
E vivido antes
De sobras e saques
E vícios e mortes
Na linha
Entre a sina
E a sorte
Antes do fim
No beco, na margem
No fim da fila
Antes da luz
Antes do urro
Já nasceu de bruços
Sozinho e no escuro
Depois do fim
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12. |
Exílio
01:42
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"Fora"
"Saia"
Esse é o holocausto
Do não
Anjo banido
No inferno
Da esquina
Na face, abandono
No punho, vingança
Fome é esfinge urgente
Sempre devora no fim
Na face, abandono
No punho, vingança
E eu que só queria
Ser feliz
Uns minutos
Me choco
No muro
Em teus olhos
E me encho
De cólera
E lágrima
Sob a voz
Que impera
Que eu suma
O vazio
Da vida
Jaz
No horizonte
Do oco
Da fome
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13. |
Paraíso Perdido
01:29
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Vomita sangue e sêmen
Lágrima e dor
E o paraíso perdido e
O que lhe resta de humano
Um corpo estranho é mais do que um corpo
Tanto nojo, tanto nojo
Nem chegou a saber o que é amor
E já apodrece com câncer de afeto
Além da infância que morre em seu peito
E em seu ventre a memória do medo
Dois abortos, três abortos
Só feridas abertas
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14. |
A Última Quimera
01:19
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Corda curta
Teto baixo
Meio passo
Fracasso e dvidas
A guerra de dias e dias e dias
Nó na garganta
Engasga saliva
Talvez na segunda
As pílulas da garrafa cinza
A cura para a febre fria
A carta no será lida
O giro do carrossel
O estalo, o berro e
A despedida
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Rabujos Recife, Brazil
Rabujos é uma banda de grindcore formada no Recife, Brasil, em 1994.
Rabujos is a grindcore band formed in Recife, Brazil, in 1994.
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